A vida é de facto surpreendente! Cheguei aos 40 anos com a profunda certeza que no meio de tantas voltas, hoje sou uma pessoa diferente...muito diferente da mulher que fui um dia!
Os gémeos nasceram no dia 07 de Setembro de 2015, às 34 semanas + 4 dias...o pilas estava farto de estar bem, e com ele trouxe a mana por arrasto! Era um serão igual a tantos outros, com a pequena diferença que estive mais de 3 horas com a sensação de "vontade de fazer xixi" Os gémeos estavam mais mexidos do que o normal, e numa reviravolta dentro de mim, os babys alteraram as suas posições, o pilocas ganhou espaço, esticou as pernas e rompeu a sua bolsa! Já tinha sido mãe anteriormente, e apesar de não ter tido da primeira gravidez ruptura total da bolsa, já tinha assistido e ouvido imensas histórias da sensação que é o rompimento duma bolsa! Nada se compara ao que foi vivenciar na primeira pessoa esse facto! Perdi literalmente, litros de água, e tendo em consideração que apenas perdi liquidos duma bolsa, nem quero imaginar o dilúvio que teria sido se tivessem rompido as duas bolsas! Passando à frente, moramos a 5 minutos do hospital mais próximo, de modo, que foi apenas o tempo de tomar um duche rápido, agarrar nos sacos e dar entrada na urgência! Chegados à obstetrícia, e sendo a única utente, dei entrada de imediato para a sala de observação. O que mais tenho presente na minha memória, é a cara da enfermeira quando me perguntou de quantas semanas eu estava e eu respondi: "34+4...de gémeos!" A srª não sabia se havia de rir ou de chorar...o hospital de caldas da rainha, apesar de ter um serviço de neonatologia, tem apenas unidade de cuidados especiais e não de cuidados intensivos...a partir desse momento foi um corropio naquele serviço! Os bebés supostamente, teriam um peso estimado que rondaria os 2kg cada um, até aqui tudo bem, o problema é que numa gestação gemelar, a margem de erro é enorme, de modo que nunca se consegue saber o peso real dos babys até ao momento do nascimento! Outra dúvida que se levanta é em relação à maturação pulmonar, eu não tinha feito corticoides (hormonios que aceleram a maturação pulmonar), e as 34 semanas são uma linha muito ténue relativamente a esse facto! Se se viesse a verificar que os babys não tinha maturação suficiente, teriam de ser ventilados e transferidos para um hospital em Lisboa, algo que nós não desejavamos por todos os motivos e mais alguns!
Fui levada para a sala de indução e ligada a CTG e soro...comecei com contrações ligeiras e de repente vejo-me rodeada de batas brancas, verdes e azuis...não sabia quem era quem...o babe estava no exterior dessa sala e tudo o que eu desejava era tê-lo ali...ao meu lado! Vem o primeiro médico que me observou e questiona-me: "Quer um parto normal ou uma cesariana?" Pensei: "WTF??? Agora já se pergunta que tipo de parto é que se quer??? Ok...pensa com calma e respira fundo", respondi que me tinha preparado psicologicamente para uma cesariana, mas eles é que eram os profissionais e eles teriam a ultima palavra! Desapareceu com a mesma rapidez que apareceu. Pedi para chamar o babe...e ao fim duns minutos lá apareceu ele...por esta altura as contrações eram de 5 em 5 minutos e já eu me contorcia toda a cada nova dor, mas ainda assim, deu tempo do babe me tirar umas fotos, estava eu com cara de "tira-me daqui please!" O médico regressou e com a maior das calmas disse: "Pronto, vamos fazer uma cesariana de urgência...até podiamos tentar um parto normal porque o primeiro gémeo (ela) está em posição cefálica (de cabeça para baixo), mas tendo em conta que o segundo gémeo (ele) está em posição pélvica (sentado), temos receio que ela ao nascer, ele ponha uma pernita à frente e depois podiam-se complicar as coisas!" Ok, pensei eu, bora lá despachar isto que eu quero abraçar os meus babys! A partir desse momento perdi a noção do tempo e das pessoas ao meu redor...vieram mais 3 médicos (soube depois que eram médicos), um obstetra a dizer que estavam a preparar o bloco, um pediatra a informar-me que estavam á espera dum segundo pediatra visto que iam nascer dois bebés e uma anestesista, que coitada da senhora estava danada porque a tinham acordado! Enfim...quem é que entra numa urgência às 2h da manhã para "parir" um par de gémeos??? Euzinha aqui! (risos) Fui levada para o bloco com a esperança que deixassem o babe estar a meu lado, facto que não se concretizou! A partir do momento que entrei para o bloco toda eu era tremores, suores frios e as poucas palavras que eu conseguia articular, eram abafadas pelo ruido que toda a equipa fazia à minha volta! Senti-me em pânico...sem chão, sem ar! Tive medo por mim mas principalmente pelos babys...da parte da equipa, sentia-se a descontracção própria de quem sabe o que faz e o meu refugio foi confiar neles...a minha vida e a vida dos meus babys estavam agora nas mãos daquele monte de estranhos que riam e conversavam com a maior das naturalidades! O pilocas veio ao mundo eram 04h45 e ela às 04h47! Mal lhes foi cortado o laço que os unia a mim, deram as boas vindas ao mundo, num grito e num choro de quem diz: "Cheguei e estou bem!" Não consegui conter as lágrimas...o alívio de saber que eles estavam a respirar por si, foi o maior presente que Deus me deu! Só os consegui ver de raspão, ele nasceu com 1,660kg e ela 1,895kg. Por terem baixo peso foram levados de imediato para o serviço de neonatologia, mas a minha guerreira ainda teve direito a ir dar uma beijoca à mãe! A ultima coisa de que me lembro, foi da anestesista dizer que ia sentir sono...e que dormisse! Assim aconteceu, senti de repente uma força estranha a obrigar-me a fechar os olhos e até às 08h da manhã, tudo o que me recordo, são flashes, imagens e sons distorcidos, tal e qual um sonho! Mais tarde vim a saber que não foram sonhos...foi plena realidade, apenas eu estava num estado de semi-consciência! Estive 24h deitada e apenas após esse tempo pude ver as minhas estrelinhas...dentro das incubadoras...muito magrinhos, muito pequeninos (40cm de gente). Eram os meus babys, os amores da minha vida e estavam bem! Apenas por terem baixo peso e claro, terem nascido prematuros, estavam em observação! Mas estavam bem e mais uma vez a agarrarem-se à vida!
Havia muito por contar, mas o mais importante está aqui! Valeu a pena...valeu a pena o tratamento, a ansiedade de quem espera algo maravilhoso, valeu o stress, as viagens, a incerteza...valeu a pena e sabem que mais? Repetiria tudo outra vez, ser mãe é a viagem mais magnifica que alguma mulher pode fazer e eu dou graças a Deus por me ter permitido mais uma vez embarcar nesta aventura!