Era uma vez um menino, que brincava na rua como qualquer outra criança, feliz e sem preocupações. Repartia o seu tempo entre a escola, o futebol e a brincadeira.
Brincava na rua e de quando em vez, lá vinham...os guardas...aquela forma de estar cativava a criança, a forma como falavam... os olhos da criança brilhavam como se estivesse escrito o seu destino.
Os anos passaram e quando teve a sua oportunidade lá foi "meter" os tais papéis. A Guarda Nacional Republicana esperava por ele.
Entrou logo à primeira tentativa, tinha então cerca de 20 anos de idade e uma vida inteira à sua frente, na flor da juventude, com toda a força e preparado para seguir não só uma vontade, mas toda uma vocação. Ilusões não faltavam.
No dia 18 de Setembro de 2000 lá foi ele a caminho de Portalegre para iniciar o tão desejado curso de formação. Foram passando os dias, as semanas, os meses e finalmente concluiu o curso com maior ou menor dificuldade, o destino estava a ser escrito pela sua própria mão.
Chegou a primeira colocação e começaram os primeiros serviços. Cada vez que saia à rua e ajudava de uma qualquer forma uma pessoa era um prazer enorme para aquele, agora, adulto, aquele novo GNR.
Conseguido o tão desejado objectivo de entrar para uma instituição tão respeitada e o prazer de servir um país que ele adora, resta agora chegar para junto da família...tenta e tenta, anos passam e passam...a oportunidade não chega...paciência. O sentimento de que está a ser útil é bem maior que todas as adversidades juntas.
Como qualquer pessoa, para além de objectivos profissionais, os objectivos a nível pessoal também contam para uma realização pessoal completa e chega o momento de formar família. Assim o faz apesar da distância que separa um jovem casal no início de uma longa vida em comum. (Afinal de contas um dia vai conseguir ir para junto dos seus verdadeiros grandes pilares de vida)
Com a vida pessoal a correr sobre rodas ambiciona mais...ambiciona evoluir na sua carreira profissional, concorre umas quantas vezes até que o consegue e, com todas as ilusões que o acompanham desde um princípio lá vai ele a caminho duma muito desejada promoção. Termina o curso e agora é hora de esperar.
Promessas, leis e decretos, governos e novos comandos iam passando na sua vida e não é que aquela criança, agora militar da GNR começa a olhar para trás...as dúvidas começaram a surgir faz já algum tempo, e uma única coisa lhe passava pela cabeça: “Sempre me exigiram esforço, dedicação e profissionalismo...mas, o que me foi dado a mim? Semanas longe da família? Natais longe do meu filho? Não vi os primeiros passos do meu filho... Não o ouvi dizer papá pela primeira vez..." Essas palavras ecoavam dia após dia na cabeça do jovem militar.
Quantas e quantas vezes depois de 3 ou 4 semanas a juntar folgas para passar mais tempo em casa chegou a altura de se ir divertir um pouco com os amigos e família e ficou parado no corredor de sua casa junto à porta do quarto a olhar para a porta de saída e para a cama e não é que a escolha recaía sempre na cama... Andava cansado, mal dormido e sem vontade de se divertir. A distância começa a pesar na relação, afinal de contas os planos feitos não estavam a correr como o previsto. A ilusão de cumprir um objectivo que o acompanhou uma vida inteira não estava a passar disso mesmo...duma grande ilusão. Ganhava cada vez menos, o dinheiro já praticamente não chegava para pagar tudo (casa e suas despesas, carro, alimentação, deslocações e todas as despesas que um filho dá), e ainda por cima a espera pela merecida promoção já vai para lá de um ano (nunca visto). Mas ainda assim não é que as exigências continuam? O esforço, a dedicação e o profissionalismo não pode falhar...
Esse menino, adulto, GNR agora só sente desilusão, a motivação de outrora foi-se com as palavras de quem tem passado por ele nesta tão grande instituição, neste tão querido país. Ele tenta encontrar aquela alegria dos primeiros tempos, aquela vontade, mas a única coisa que encontra são razões para desconfiar, para não acreditar para não seguir este caminho...olha para trás e a única coisa consegue ver é a juventude perdida em favor de quem nunca o mereceu. Levaram-lhe não só a juventude, mas também os sonhos e as ilusões... Um jovem com 20 anos não merece que lhe retirem a vida duma forma tão enganadora. Um jovem com 20 anos não sabe nada da vida e a coisa que menos precisa é duma instituição/governo a puxá-lo para dentro quando a única coisa que pretende é retirar-lhe o que de melhor tem, A ILUSÃO DE CUMPRIR OS SEUS SONHOS!
Nunca ninguém lhe mentiu, mas também nunca houve ninguém que lhe dissesse a verdade!
(Texto escrito pelo membro "Serrano" do Fórum GNR.)
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